Bairro Alto

Saio do jornal já perto da meio noite. O Bairro Alto está apinhado de gente, grande parte da malta turistas de férias que procuram divertir-se.

Eu, devido a estes olhinhos azuis de cortar a respiração (convencido eu? Nada disso, eu sei que todos os meus encantos corporais se concentraram nos olhos, o resto, garanto-vos, não tem grande aproveitamento...). Bem, onde é que eu ia antes de vocês me distraírem?

Ah, já sei. Dizia eu, melhor, escrevia eu que devido a estes olhinhos azuis de cortar a respiração sou encarado como mais um turista. E logo um português simpático, com bom ar, revela a hospitalidade lusitana. Chega-se ao pé de mim, tapa uma das narinas com um dedo, inspira fundo com a outra e pergunta num irrepreensível inglês:

«Do you want coca?»

Eu, que até estou bem disposto, respondo-lhe em português:

«Obrigadinho, pá, mas eu preferia uma cerveja...»

Mais à frente paro para acender um cigarro. Com esta barba de um mês (que para a maioria dos homens seria apenas de três dias), e ao fim de mais um dia intenso de trabalho, devo mesmo ter um aspecto agradável... Foi a conclusão que tirei quando uma camone, good as a corn, me pergunta:

«Do you have coca?»

Se eu fosse atrevido, respondia-lhe:

«Se queres ver estrelas, tenho aqui algo bem mais eficaz...» Mas engasgava-me a meio e haveria de corar e isso era um problema. Por isso, respondi-lhe:

«Only beer, my darling...»

«Fuck you», respondeu ela.

Ah, como eu gosto do Bairro Alto.