quinta-feira, 27 de março de 2008

Ter fome é bom!


1 - Hoje fui inscrever o meu filho no Centro de Saúde. Tirei a senha e fiz cara mais feia do que quando, em criança, me davam óleo de fígado de bacalhau. É que faltavam 48 pessoas até ser atendido.

2 - Espreitei para a sala de atendimento e estavam lá duas funcionárias cheias de delicadeza. A sério. Só via o dedo indicador da mão direita a pedir licença ao indicador da mão esquerda para ver quem carregava na tecla certa do computador.

3 - Ao cabo de meia hora, tinham atendido cinco pessoas. Fiz contas de cabeça e depressa cheguei à conclusão que, àquele ritmo, não seria atendido até ao intervalo da hora de almoço. Mas decidi arriscar.

4 - Como numa longa espera há tempo para tudo, dei por mim a filosofar... Estas demoras no atendimento não são falta de profissionalismo, de competência ou de organização. É um serviço que o Estado faz ao cidadão, que se não fosse assim nunca tinha tempo para ler. Eu fui precavido com A BOLA. O tempo de espera é tanto que até dá para ler Guerra e Paz. Quem, ainda assim, não gosta de ler, aproveitou a espera para meter conversa com o vizinho do banco de lado. E este sem culpa nenhuma...

5 - O relógio a passar e eu a ver que não ia almoçar. A meia hora do fecho faltavam ainda 22 pessoas e temi ter de ficar para a reabertura das 14.

6 - Meia hora antes do fecho para almoço, chega o segurança e retira as senhas e percebi que quem já as tinha seria atendido antes do almoço. Tive pena das funcionárias, coitadas, que com tanta gente para atenderem nem iam ter tempo para comer.

7 - De repente, o quadro electrónico fica maluco e os números começam a andar a uma velocidade estonteante. É só utentes a entrar e a sair do serviço e quando dou por mim chamaram o meu número. Credo. Gastaram hora e meia para atender 22 pessoas e em meia hora já atenderam 25?

8 - Só lá dentro percebi que os indicadores deixaram-se de delicadeza e os 10 dedos das funcionárias pareciam um rancho folclórico afinadinho a dançar o corridinho.

9 - Disse boa tarde e ao que vinha, Entreguei os documentos necessários e mal pouso o meu real traseiro no banco recebo de volta um papel. Tudo tratado.

10 - Moral da história: a fome melhora a produtividade. Se o Estado proibisse os seus funcionários de tomarem o pequeno almoço, o país poderia bem fechar à hora de almoço com tudo feito...

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