De quando em vez lá vem um estudo a provar que os portugueses estão entre os povos mais pessimistas do mundo. Podem até ser, mas em determinadas áreas revelam um optimismo deveras comovedor. Ainda ontem fui com um amigo a uma pastelaria. Entrámos e começámos a tirar as medidas à montra dos bolos.
«Estas queijadas são de confiança? São de hoje? Estão boas?». Três perguntas de rajada feitas à empregada, que com um sorriso cândido respondeu sim a tudo.
«Então quero uma», sentenciou o meu amigo, ao que o imitei. Se a empregada dizia que eram boas é porque eram. Cenas como estas passam-se todos os dias, com todos nós: «Como está o bacalhau com natas? É de confiança?»; «Estes rissóis foram feitos hoje?»; «Esta empada de galinha é caseira?».
Sinceramente, quando perguntamos coisas como esta estamos à espera de que resposta? Eu ainda sonho com o dia em que os empregados nos respondam com o mesmo sorriso cândido: «Se eu fosse a si não confiava neste bacalhau. É que as natas já estavam fora do prazo de validade»; ou «os rissóis já têm quinze dias, mas se não se importa de andar a correr de sanita em sanita faça o favor de se servir»; ou mesmo, «a galinha foi encontrada morta no meio da estrada em avançado estado de decomposição. Tanto que só foi possível fazer uma empada».
Nós somos desconfiados por natureza. Desconfiamos de quem nos trata da saúde, de quem ensina os nossos filhos, de quem lida com as nossas burocracias, de quem arranja os nossos carros... Agora, de quem nos mete coisas na boca já confiamos plenamente...
PS - Tive de interromper este texto repentinamente. Vou ter de pedir explicações àquela menina de sorriso cândido...
sábado, 9 de fevereiro de 2008
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