quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Carta aberta a Rabiola

Meu caro Rabiola:
Você é uma esperança do futebol português e, como tal, desde já fica a saber que acompanharei a sua carreira com atenção. Deposito em si muitas esperanças e faço votos para que chegue onde mais deseja na sua carreira.
Só tenho um pedido a fazer-lhe: mude de nome de guerra. Se o Miguel Sousa Tavares já implicou com o FC Porto por ter contratado um jogador chamado Pitbull, temo que qualquer dia vá implicar consigo.
Depois, com a imaginação (e tentação) que nós jornalistas do desporto temos para conceber títulos fazendo trocadilhos com os nomes dos jogadores, receio que algum colega ainda se estenda ao comprido.
Você será ainda muito novo para se lembrar, mas informo-o que, no passado, nem sempre foram felizes as referências a jogadores como Bobó, Mamadu ou Konadu.
Você até tem um nome bonito e bem português. Escolha entre Tiago, André, Coelho ou Lopes. Eu voto em Coelho, porque dá para fazer bons trocadilhos sem corrermos o risco de ofender... Como, por exemplo, "Jesualdo tirou Coelho da cartola".
Grato pela atenção

Tenham (muito) cuidado!

Por muito que a divisão de classes, o poderio económico, o nível cultural ou a religião continuem a traçar fronteiras entre a humanidade, há hábitos ancestrais e gestos do quotidiano que nos unem mais do que gostariamos de admitir. Eu tenho até a opinião que é entre a preciso momento em que nos levantamos da cama e o que nos colocamos debaixo do chuveiro (ou seja, enquanto não despertamos a sério para o mundo) que os homens são mais parecidos uns com os outros. E quando digo homens, digo homens mesmo, que a maioria das mulheres escapa a certas manifestações primárias. Tudo isto para vos dar um conselho de amigo:
Quando quiserem alçar a perna, qual golpe de karaté, para soltarem com estrondo os prisioneiros acumulados durante a noite - ao mesmo tempo que com a mão direita fazem gestos largos na barriga e com a esquerda realizam a contagem diária do tridente que prova a nossa masculinidade - verifiquem bem se estão sozinhos nessa divisão da casa...
E mais não conto, por vergonha, sobre como começou o meu dia de hoje...

Um bom dia para todos.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Rábulas parlamentares

Humorista que se preze não pode perder os debates quinzenais no parlamento. Por isso, eu raramente os vejo. Mas já vi alguns.
A parte que eu mais gosto nos debates é quando o grupo parlamentar do PS faz perguntas ao primeiro ministro José Sócrates. A gente a ver aquilo e a perceber que os deputados socialistas fizeram um esforço tremendo para elaborar perguntas complicadas. Soube de fonte não segura que na véspera de um desses debates, durante a sua preparação, até houve um deputado do PS que se levantou, em transe, e vaticinou: «Temos de entalar o Sócrates. Queremos que ele seja conhecido como o novo Martim Moniz.» Perante o aplauso geral e a gargalhada de Manuel Alegre, desataram a imaginar escabrosas perguntas.
- Sr. Primeiro Ministro: como se sente por ser o mais competente, bem falante e bonito líder de Governo que Portugal já conheceu?
- Sr. Primeiro Ministro: qual é o segredo de governar o País tão bem?
- Sr. Primeiro Ministro: não acha que os meninos da oposição são maus e não gostam de brincar connosco?
(À terceira pergunta Manuel Alegre abandona o hemiciclo porque não consegue parar de rir)
As respostas de José Sócrates demonstram como ele é mais esperto do que Martim Moniz. Face a perguntas com rasteira e completamente inesperadas, o primeiro-ministro responde de forma firme e doma o grupo parlamentar, que se levanta para bater palmas como se não houvesse amanhã.
(Manuel Alegre já voltou, sentou-se e não se levantou para bater palmas. Gosta mais de se rir sentado)

O burro do Jerome

Aviso prévio: depois de me ter deitado perto das três da madrugada tive de acordar às 7 para levar o carro à revisão. Sinto-me mal. Não só porque dormi pouco, mas porque faço pelo meu carro o que não costumo fazer por mais ninguém... Por isso, enquanto fazia a barba, entre o primeiro e o segundo corte, tive o seguinte delírio:
Acabei de ouvir que Jerome Kerviel vai ser acusado por abuso de confiança após ter provocado um desfalque de 4,9 mil milhões de euros no banco francês Siociété Générale (bem feito, sempre achei presunçoso um banco com quatro acentos no nome...). Ao que parece, o jovem não retirou desta burla qualquer dividendo financeiro. Por isso, seu eu mandasse mudava a acusação para "burro... das Caldas" e mandava-o internar numa instituição psiquiátrica. Alguém que consegue fazer uma burla de 4,9 mil milhões de euros e não fica com um milhãozinho que seja para a reforma dourada quando sair da prisão, não merece respeito e será proscrito pelos seus pares.
Sei de fonte pouco segura que até já retiraram da Internet a petição para que lhe fosse atribuída a Comenda Alves dos Reis.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Sorria, sr. ladrão


Aplaudi a decisão de várias autarquias deste País de instalarem câmaras de vigilância em zonas públicas mais problemáticas. Pretende-se dissuadir a criminalidade e acho muito bem. Só tenho uma sugestão a fazer para dissuadir ainda mais os criminosos: andarmos na rua com um autocolante na testa, "sorria, está a ser filmado".

ASAE aprova ambulâncias


Vítor Almeida, presidente da Associação Portuguesa de Medicina de Emergência, considerou ontem que muitas ambulâncias estão à margem da lei por não transportarem desfibrilador. E exigiu uma fiscalização. Se lá fosse a ASAE as viaturas eram aprovadas. Pelo menos a avaliar pelo interior de uma ambulância que vi numa reportagem da RTP. Lá estava, em local bem visível, um autocolante: «Proibido fumar». Acho muito bem, porque o interior de uma ambulância é um local fechado e estavam já a cometer-se alguns abusos.
“Sr. Doutor, está a arder tanto...”, grita o sinistrado, quase a perder a consciência e com múltiplas lesões. Não é agradável ouvir o médico responder “Desculpe lá, deixei cair o cigarro...”

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Chorei por Suharto

Fiquei comovido com a morte do ex-presidente indonésio, Suharto. Comovido pelo sofrimento dos filhos, que agora vão ter de herdar a fortuna do 143.º homem mais rico do mundo. Até me vêm as lágrimas aos olhos só de pensar no festim que fazia com as migalhas que caíssem da mesa do ditador.
Achei bonito o discurso de uma das filhas (juro que tentei fixar o nome, mas era difícil de decorar). Ela revelou, num momento de grande dignidade, que a família pedia a Deus perdão pelos pecados do pai. Para ser ainda mais comovente, só faltou que pedisse também perdão aos 234,693,997 habitantes da Indonésia, e aos timorenses, mas, pensando bem, isso já seria pedir muito. Para isso, a família teria de restituir a fortuna amealhada durante anos e que até daria para cada um deles viver sem preocupações para o resto da vida. E os indonésios, e timorenses, podiam até levar a mal, por não estarem habituados. A partir de agora, aconselho todos a também só pedirem perdão a Deus. Ele está lá no seu cantinho, não chateia, não nos vai ao bolso. Insultou o seu vizinho? Peça desculpa a Deus, não ao vizinho, que o mais certo é ser mesmo uma besta; traiu a sua mulher? Peça desculpa a Deus, pelo menos enquanto não for apanhado; teve pensamentos eróticos com a Soraia Chaves? Peça desculpa a... (espere aí, pedir desculpa de quê?)

Helton é solidário

Confesso que fiquei impressionado com a exibição do Helton no Sporting-FC Porto. Mais do que impressionado, fiquei comovido. A forma elegante como deixou passar a bola do primeiro golo por baixo das pernas mostra que é um homem de carácter.
Passo a explicar:
No jogo do Dragão, o guarda-redes do Sporting, Stojkovic, agarrou com a mão uma bola que não devia, provocou um livre indirecto dentro da grande-área e o FC Porto aproveitou para marcar o golo que lhe deu a vitória. Stojkovic foi crucificado. Helton comoveu-se e solidarizou-se com o colega de posição. Por isso, até me quis parecer que Helton, depois de ter sofrido o frango, virou-se para o banco do Sporting e, de dedo em riste, gritou: «Esta é para ti, Stojkovic». O sérvio, depois de perceber que o golo lhe era dedicado, fez um esforço para parar de rir e acabou por agradecer. Pelo menos foi o que me pareceu.
Depois, Helton mostrou que é um homem que respeita os espectadores e a tradição. É que quem vai a Alvalade já estava habituado a ver uns franguitos de vez em quando e desde que o Ricardo foi para o Betis a tradição estava a cair em desuso.

PS1 – Comovedora foi também a forma como o Bruno Alves tentou fazer ketchup do João Moutinho, mormente das partes baixas do rapaz. Quem estava por perto garante que João Moutinho atingiu uma escala de agudos mais alta do que a de Maria Callas.

PS2 – Gostei de ver e o ouvir o árbitro Carlos Xistra dizer, à Sport TV, minutos antes do jogo, que esperava fazer um bom trabalho e desejava passar despercebido. Ora para passar despercebido, nada melhor do que começar por dar uma entrevista televisiva, em directo, em pleno relvado...

domingo, 27 de janeiro de 2008

Estou desiludido, sr. bastonário

Eu tive de ir à Wikipedia confirmar essa história de Jacques de La Palice ter nascido em França. Mas não fiquei convencido. Acho que ele deve ter nascido em Portugal, como Cristóvão Colombo, e deixo já o repto ao mestre Manoel de Oliveira para indagar. E, se tiver mesmo de ser, fazer um filme sobre tão fascinante personagem. E mesmo que seja francês, deve ter andado por Portugal a espalhar semente. É a única conclusão plausível a que chego quando percebo que em Portugal basta alguma figura pública dizer algo de óbvio para provocar enorme agitação.
Exemplos? Bastou Lili Caneças ter dito que “estar vivo é o contrário de estar morto” para ser citada em tudo o que era comunicação social; António Guterres não sabia fazer as contas do PIB (como se fossemos um país de craques em matemática e um primeiro ministro tivesse de saber do PIB...) e abriu todos os telejornais; Cavaco Silva, então candidato a candidato à presidência, escreveu um artigo a dizer que os bons políticos devem afastar os maus políticos (imaginação seria dizer o contrário) e o então presidente Jorge Sampaio demitiu o Governo de Santana Lopes... Já Luís Filipe Vieira disse que o Benfica tinha uma equipa maravilha e não me lembro de ter provocado tanto estardalhaço. Porquê? Porque isso já exigia um exercício de imaginação...
Agora, vem o bastonário da Ordem dos Advogados, dr. Marinho Pinto, dizer que se praticam ilegalidades em altos cargos do Estado e há quem já tenha colhido o fruto quando saiu da política para ser administrador de empresas a quem concedeu benefícios... Francamente, senhor bastonário, estou desiludido. Esperava mais de si, um pingo de imaginação que fosse, até por saber que você é um homem de verbo fácil (para ser sincero, acho que é mais um homem de adjectivo fácil...). A única coisa que você prova, e que lhe fica bem, é que lê os jornais.
Eu também podia dizer com algum grau de segurança que há corrupção nas autarquias locais. Podem perguntar: mas tem provas? Não sei, obrigar as pessoas a visitar certas cidades e vilas deste país e admirarem os mamarrachos urbanísticos conta como prova? É que se contar, então eu tenho provas.
Depois, dr. Marinho Pinto, você estragou tudo, porque agora a Procuradoria Geral da República decidiu abrir um “rigoroso inquérito”. Ora eu preferia que se abrisse um inquérito nada rigoroso. É que por via das dúvidas sempre poderia acontecer o milagre de se chegar a alguma conclusão...

sábado, 26 de janeiro de 2008

2 euros pró Sócrates

O que têm todas as sextas-feiras em comum? Chegar a acreditar que é o meu último dia de trabalho. O que têm todos os sábados em comum? A queda à realidade e o ter de me levantar para ir trabalhar...
Para a maioria das pessoas, a segunda-feira é o dia que mais custa. Para mim é o sábado. Em primeiro lugar porque encontro sempre algum vizinho que me deseja um bom fim-de-semana, com sorriso maroto, vestindo calças de ganga e camisola desportiva, com ar feliz de quem está de folga. Em segundo lugar porque percebi que voltei a não ser eu a ganhar o Euromilhões. Por isso, sexta-feira não foi o meu último dia de trabalho. Pelo menos trabalho diário, com horário.
Eu acho que, passe o exagero da comparação, jogar no Euromilhões é igual escolher um filme pornográfico para ver: estamos sempre à espera de ser surpreendidos, mas acaba por ser sempre mais do mesmo. Mas este é um ciclo que se renova e sexta-feira lá estarei de novo a imaginar o que faria com 15 milhões de euros...
Nos sonhos somos todos parecidos. A grande maioria garante a pés juntos (e mãos juntas, de tanto rezarem), que não mais voltariam a trabalhar. Como se o PIB se ressentisse muito! Acho que para muitos, o mais correcto seria dizerem que não mais voltariam ao emprego. Se saísse o Euromilhões a muitos funcionários públicos, acho que ninguém notaria a diferença, mas isso sou eu a falar (desejar?).
Em relação ao Euromilhões, há muita gente que até diz desejar que o prémio seja dividido por muitas pessoas, principalmente em semana de jackpot. Ora como eu não sou mentiroso, gostava que fosse todo para mim.
Mentira: gostava que saísse também ao José Sócrates. Podíamos ter sempre a sorte de também ele deixar logo de trabalhar. Ou melhor, o emprego. Eu estou na disposição de contribuir com 2 euros...

PS – Ouvi dizer hoje de manhã na rádio que os 76 milhões de euros saíram a um apostador europeu. E que havia quatro prémios de 360 mil euros para apostadores portugueses. Estão a ver a coisa? Bem me parecia que nisto de grandes fortunas os portugueses não fazem parte da Europa.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Relógio parado

"Até um relógio parado tem razão duas vezes por dia."

Já me estava a fazer confusão o facto de muitos amigos meus terem um blog. De resto, já estava a ficar farto de perder quase todas as batalhas sobre masculinidade. Desde o tamanho do pénis até ao número de gajas comidas (nós homens primamos pela originalidade e elevação nas discussões de café...), passando pelo número de cavalos que temos no motor do carro até ao modelo de telemóvel (o único tema em que nos gabamos do nosso ser mais pequenino do que o do vizinho...). Perdia sempre, por vezes até de goleada...
Eu também queria ter um blog, mas sempre achei que não tinha muitas coisas inteligentes para escrever. Mas depois, olhei para mim no espelho e cheguei à conclusão que isso fosse critério mais de metade das pessoas não poderiam ter blog ou escrever artigos de opinião em jornais.
Por ter tido esta ideia na casa de banho (não, não foi a fazer isso, foi a fazer a barba e tenho um corte junto ao lábio superior que testemunha isso mesmo) entendi que este deveria ser um espaço para fazer a minha higiene mental. Para distorcer a realidade à minha maneira, para me rir de mim e dos outros. Sem a preocupação de ter coisas muito importantes para dizer, porque como li algures "até um relógio parado tem razão duas vezes por dia".
Não sei o que vai ser este espaço.
E ainda bem.