Descoberta do milénio

Confesso que fiquei de cara à banda com a minha descoberta. Olhei para aquela capela, num passeio por Lisboa, e descobri um achado: aquela capela era do ano de 950, ou seja, tinha mais de mil anos.

Entusiasmado, paredes meias com o eufórico, estado de espírito perfeitamente perceptível pela minha expressão de espantóaparvalhado, chamei os meus amigos que faziam o passeio comigo.

«Venham ver, uma capela com mais de mil anos»...

Há gente que, definitivamente, demora algum tempo a maravilhar-se, e logo alguém, com a matéria de história um pouco mais fresca na cabeça - alguns chamavam-lhe marrão - lançou para o ar um interessante debate: se Portugal era dominado pelos mouros em 950, já que só dois séculos depois o afonsinho bateu na mãe e foi pelo Porto abaixo de espada em riste - como é que a capela poderia ser de 950? Ok, os romanos já tinham andado por cá, mas não consta que fossem especiais admiradores da banda JC e os 12 Apóstolos. E muito menos caberia na ideia que os mouros mandassem contruir uma Al-igreja, em Al-Lisboa e por essa Al-tura.

- Que raio, Jorge. Onde é que foste buscar que a capela é de 950? Para mais, não tem aspecto de ser antiga.

Contive o ar de triunfo antecipado, sorri de soslaio e quase o chamei de S. Tomé, que precisava de ver para acreditar. Levantei o braço, reforcei o sorriso, e apontei para uma placa que dizia: CML. «Estás a ver, é de 950...»

O meu etusiasmo vitorioso durou o tempo da maioria soltar uma sonora gargalhada. Desconcertado, ouvi alguém gritar:

«CML é Cãmara Municipal de Lisboa, seu tolo...»

Moral disto tudo: sou melhor em numeração romana do que em história e na capacidade de percepção da realidade. Aqui, como na vida, a explicação mais simples é sempre a melhor.